sábado, 20 de abril de 2013

Em maio as explosões solares ficarão mais fortes


Em maio as explosões solares ficarão mais fortes - entenda esse violento fenômeno


20 de abril de 2013

Como as tempestades solares são formadas? O que elas são capazes de fazer no corpo de um astronauta? Qual a explosão mais forte já registrada? GALILEU conversou com especialista pra esclarecer o que o próximo mês de maio significa para o Sol – e para quem mora na Terra

por João Mello

Editora Globo
Flagra de uma forte explosão solar: plasma pode ser jorrado a mais de 700 mil km de distância //Crédito: NASA
O Sol é uma bomba atômica que não para de explodir. De tempos em tempos, essas explosões atingem seu ápice, fenômeno chamado de 'máxima solar'. Os resultados desse evento podem ser ao mesmo tempo devastadores e surreais: em um dia de 1859, por exemplo, era possível ler um jornal no meio da rua, mesmo à noite. Hoje, essa violência poderia causar uma chuva de satélites.
Sabendo que o próximo auge das explosões deve ser mês que vem, em maio, há muita gente ficando nervosa. Mas não há motivos para se preocupar: tudo leva a crer que será um ápice discreto.
Os ciclos costumam durar 11 anos, mas isso é uma média, já que eles podem variar entre 9 e 14 anos. O ciclo atual, então, deve ter começado em meados de 2008 e provavelmente irá até o final de 2018. “É tudo uma questão de vales e picos. Esse pico atual é bem ameno. Mas uma ou outra explosão pode ser extremamente poderosa” explica Ulisses Capozzoli, doutor em Ciências pela USP. Esse é considerado o 24º ciclo – isso porque a Humanidade começou a acompanhar a atividade solar há um período relativamente recente, ainda mais se considerarmos a escala cósmica.
A NASA mantém um observatório em Doulder, nos EUA, cuja função é monitorar o que acontece com a estrela que regula a vida dos terráqueos. Lá, os cientistas acompanham a chamada heliosismologia, nome dado ao estudo que investiga os tremores na superfície do Sol. Eles não são capazes de prever explosões apocalípticas daqui a uma década, mas é possível antecipar tempestades que irão acontecer nas próximas horas ou dias. “Nosso conhecimento do Sol é relativamente grande, mas não o suficiente para entendermos uma série de fenômenos”, diz Ulisses.
Não é difícil relacionar a imagem do Sol explodindo com o fim da vida na Terra. Para tranquilizar a todos, GALILEU conversou com Ulisses para entender de uma vez por todas o que são as explosões solares e com elas podem afetar nossa vida. Confira a entrevista:
Como as tempestades solares surgem?
O coração do Sol é um reator natural de fusão nuclear funcionando a 15.000.000 °C. Lá dentro tem uma quantidade muito grande de matéria, uma pressão gravitacional enorme:  340 bilhões de vezes maior que na superfície da Terra. O que o Sol faz é transformar massa em energia: quatro átomos de hidrogênio são “amassados” para formar um átomo de hélio. Como tem mais massa de hidrogênio que de hélio, essa sobra é jogada pra fora.
Ás vezes demora 1 milhão de anos pra essa energia subir até a superfície do Sol. Imagine uma bola de futebol atravessada de um lado pro outro por uma mola. Essa mola, no caso do Sol, é uma linha magnética que impede que essa energia venha até essa superfície. Essa linha vai ficando emaranhada até que ela se rompe. É aí que a energia é liberada abruptamente. Quando essa linha se rompe, a energia sobe e o plasma é jogado com violência. Em dezembro de 2012 houve uma explosão que jogou plasma a 700 mil km de distância, É quase duas vezes a distância daqui pra Lua.

Os astronautas podem sofrer danos com as tempestades solares?
Uma tempestade solar tem poder para alterar a codificação genética dos seres humanos: o astronauta pode desenvolver câncer, já que as células são modificadas. A radiação solar e a radiação cósmica também podem ocasionar problemas de visão, como a catarata.
Nós poderíamos ir para Marte agora, temos aeronaves com tecnologia o suficiente para isso. Mas um dos entraves é a radiação cósmica. A ISS (Estação Espacial Internacional) tem um abrigo especial para esse tipo de situação – é um cômodo revestido por paredes de chumbo. Não à toa, o Super-Homem não enxerga através de paredes com chumbo.
O que uma tempestade solar realmente intensa poderia causar aqui na Terra?
Teve uma explosão solar em 1859 que incendiou redes de telégrafo. Hoje, uma quantidade de energia que nem essa danificaria uma série de satélites, haveria interrupção temporária das transmissões de TV ou até mesmo a ruína total dos satélites. Além disso, o vento solar pode inchar a atmosfera, fazendo com que satélites em órbita rocem na atmosfera, percam velocidade orbital e caiam na Terra. Tripulações de aviões poderiam ter problemas: um avião que sai dos EUA pro Japão faz uma rota polar. Isso significa que haveria um bombardeio de partículas – essas pessoas iriam adquirir uma probabilidade maior de desenvolver câncer, se comparado com quem está no solo. O Sol é uma bomba atômica.

Seca, corrupção e incompetência


Seca, corrupção e incompetência

Uma das maiores estiagens da história castiga 12 milhões de pessoas que vivem no semi-árido brasileiro, enquanto R$ 9 bilhões repassados pelo governo para combatê-la se perdem na ineficiência - e até desvios de dinheiro - do poder público

Josie Jeronimo e Izabelle Torres. Fotos: Yan Boechat
“Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário.” O romance Vidas Secas de Graciliano Ramos captou a alma de sofrimento do sertanejo no fim da década de 30, quando o Nordeste sofria com uma das oito maiores secas registradas no século XX. Setenta e cinco anos depois, 12 milhões de brasileiros de 1.415 municípios do semi-árido brasileiro ainda estão presos à imagem de terra arrasada, vendo os corpos ressecados de seu gado pregados no chão.
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TRISTE REALIDADE
No município de Jardim, no Ceará, fazendeiro
perdeu 300 cabeças de gado em razão da seca
Algumas regiões sofrem um ciclo de estiagem que já persiste há mais de um ano. O desenho da paisagem permanece o mesmo, mas estudos de migração populacional realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que a figura dos retirantes, eternizada pelos personagens de Vidas Secas, quase não existe mais.
Programas sociais como o Bolsa Família e de socorro e incentivo a pequenos produtores do semi-árido tiveram sucesso em fixar a população em terras com clima de deserto. De acordo com o pesquisador Helder Araújo, do Ipea, há dez anos a taxa de migração interna era de 5,7%. Hoje é de 4,5%. Alguns municípios do Nordeste que tiveram sucesso com empreendimentos de irrigação, como Petrolina (PE) e Barreiras (BA), até atraíram moradores de outros estados. Mas este cenário positivo não se repete nas obras de infraestrutura. Todos os anos, o governo federal coloca à disposição das autoridades locais aproximadamente R$ 9 bilhões para combate à seca, em programas de gestão hídrica, construção de barragens, canais e ampliação de perímetros irrigados. E todos os anos a maior parte desse dinheiro fica retido nos cofres da União, pois os projetos municipais e estaduais não têm qualidade mínima para atender as exigências – algumas razoáveis, outras puramente burocráticas – de Brasília. Desde julho do ano passado, 34 relatórios sobre a situação das regiões atingidas pela estiagem foram devolvidos aos prefeitos por falhas técnicas e o repasse de recursos foi adiado.
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EM SERRITA, PERNAMBUCO, O ÚLTIMO RECURSO:
para alimentar o gado, família tira o espinho do mandacaru
Outra parte do dinheiro se perde em desvios ligados a conhecidos esquemas de corrupção. A mais ambiciosa obra em áreas de estiagem no Brasil – a transposição do Rio São Francisco – é um bom exemplo da situação. Em 2009, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva empreendeu uma caravana para visitar as obras da transposição, orçada em R$ 4,5 bilhões. Quatro anos depois, o custo do empreendimento subiu para R$ 8,4 bilhões e a transposição continua no papel. Segundo auditoria oficial, cinco dos 14 lotes licitados da obra apresentam fraudes na aplicação dos recursos públicos.
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Neste ambiente, as ações emergenciais cumprem uma função dupla. São obviamente eleitoreiras e humanamente indispensáveis. O governo federal já investiu R$ 800 milhões na compra de cisternas, recipientes que comportam até 16 mil litros de água e podem abastecer uma família por seis meses. Sem critérios claros para a distribuição das cisternas, elas se tornaram até um instrumento para a especulação imobiliária. No Distrito de Rajada, Zona Rural de Petrolina (PE), um terreno de 30 metros quadrados acumula três cisternas, uma fartura que é sinônimo de privilégio e desperdício. Em determinadas regiões do Maranhão, não é possível instalar porque as casas não têm telhados de cerâmica, revelou um técnico da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, em reunião com a bancada de deputados maranhenses. “O Maranhão foi contemplado com 4.300 cisternas, mas apenas duas mil foram instaladas. A população é tão pobre que as cisternas serão devolvidas para o ministério”, conta o deputado Simplício Araújo (PPS-MA).
Mesmo numa emergência tão grande, a vida não deixa de ser como sempre foi. Quem pensa que a palavra dificuldade sempre rima com solidariedade pode se surpreender. Não faltam denúncias de troca de favores entre chefes políticos locais. Em Delmiro Golveia (AL), o prefeito Luís Carlos Costa se negou a contratar um empresário selecionado pela Defesa Civil porque ele faria parte do grupo político adversário. Em Petrolina, a população denunciou a existência de pelo menos sete carros-pipas fantasmas. Eles constavam na prestação de contas da prefeitura, mas não apareciam nas comunidades.
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RETRATOS DE UM FLAGELO:
em Salitre, no ceará, açude seca (acima), enquanto árvore assume aspecto de um cacto
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Na construção das barragens – método de armazenamento da água da chuva – os exemplos de corrupção e mau uso do dinheiro público se repetem. Por conta do alto nível de evaporação, o retorno em gestão de recursos hídricos não representa sequer 20% do dinheiro investido para a construção das estruturas. Somente este ano, o Ministério Público de Alagoas, Pernambuco e Ceará abriram seis ações para investigar desvios de recursos na construção de barragens. O Tribunal de Contas da União (TCU) também investiga o sumiço de R$ 800 mil destinados a obras da adutora do Agreste, entre Caruaru e Santa Cruz do Capiberibe (PE). A Polícia Federal, por sua vez, descobriu esquema que desviou R$ 48 milhões em convênios.
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VIDAS SECAS 
Moradores do município pernambucano de Serrita perderam quase todo o gado,
em decorrência da avassaladora estiagem. Para sobreviver, dependem
quase exclusivamente da água fornecida pelo Exército
A dificuldade do País para enfrentar a seca é histórica e se arrasta por anos. As ideias se sucedem, os planos se multiplicam, mas raras vezes se consegue levá-las adiante de forma coerente. A miséria pode ser amenizada, e é bom que isso aconteça. Mas a seca, desde o início de século XXI, mostra um drama que se repete, como se viu há poucos dias. Apresentado há cinco anos, o projeto 2.447/07, que institui a Política Nacional de Combate às Secas, passou um longo período esquecido. Na semana passada, deputados nordestinos tentaram sensibilizar os colegas para tratar do assunto. Mas a proposta não foi votada sob um argumento cuja lógica é difícil de ser desafiada: a demora para a discussão foi tão grande que já era tarde demais para se fazer alguma coisa. Para o professor de engenharia florestal da Universidade de Brasília, Eraldo Matricardi, a falta de orientação à população é o principal obstáculo ao fim dos grandes transtornos por longos períodos de estiagem. Para ele, técnicas simples de sobrevivência, que possuem baixo custo e seriam de grande utilidade, nem sequer são repassadas aos moradores de re­giões atingidas. “O poder público não se preocupa em ensinar estratégias fáceis, como colocar garrafas enterradas para evitar a mortalidade das plantações. Técnicas simples de irrigação também não são ensinadas e as populações continuam dependendo dos projetos megalomaníacos dos governos”, avalia o professor.
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ESCASSEZ DE COMIDA:
Galho da árvore vira opção de alimento no sertão do Ceará
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fonte: revista  ISTOÉ, N° Edição:  2266 |  19.Abr.13 - 21:06. disponível em www.istoe.com.br